quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Os únicos. . .

Guimarães, cidade monumental, é palco de fenómenos não muito comuns em terras lusas. Não, não estou a falar em fenómenos género "Entroncamento", essa terra de autênticos fenómenos do paranormal, onde se avistam ovnis todos os dias e onde quase todos os dias se vêm homenzinhos verdes a passear de um lado para o outro. Não, não são extraterrestres, são mesmo militares!

Guimarães é cenário de um outro fenómeno: a união dos verdadeiros vimaranenses ao Vitória, fruto de um bairrismo quase levado ao extremo, mas que não deixa de ter a sua piada.
Os vitorianos vivem o dia-a-dia do clube de uma maneira muitíssimo singular. Para nós, o clube está acima de muitos aspectos da nossa vida. . . podemos até não ir de férias, ou não ter carcanhol para comprar qualquer coisa que necessitemos. . .desde que o clube não desca de divisão, está tudo bem.
O vitoriano discute todo e qualquer aspecto relativo à vida do clube, desde as contratações, até às decisões menos ortodoxas da direcção, passando pela qualidade do relvado, pela marca dos equipamentos (não queiram saber a celeuma que resultou do acordo com a Lacatoni, sediada em Braga), pelos desempenhos nos treinos, etc. . . Resumindo, não há qualquer aspecto da vida do clube que não passe pela boca dos sócios e toda e qualquer coisa "Top Secret" que se faça, é logo do conhecimento geral do universo vitoriano. O mais engraçado é que nestas coisas, toda a gente parece sempre saber mais detalhes do que a própria direcção do clube.
Ultimamente, a "clubite" destas gentes tem dado que falar. Há duas épocas atrás, o clube foi despromovido ao segundo escalão futeboleiro português, a muy honrosa Liga Vitalis. Nesta cidade, foi o desespero total. Viu-se de tudo, homens com barba viçosa a chorar, caras cabisbaixas por todo o lado. A cidade mergulhara num coma profundo durante um ano inteiro. Ao passear pelas velhas ruas da cidade, notava-se que faltava alguma da alegria que caracteriza as gentes cá do burgo. Os cumprimentos e saudações entre as pessoas eram mais discretos, era fácil ver alguém mal disposto ou com cara de frete. Quando se encetava uma conversa com alguém, era inevitável invocar o triste fado do Vitória, empurrado para a segunda liga por uma direcção de incompetentes, com uma equipa cara de mercenários que se estavam a borrifar para a camisola. Quando se festejava alguma coisa, um aniversário ou outra ocasião digna de registo, era frequente ouvir alguém perguntar-se como seria o festejo se o Vitória estivesse entre os grandes. Foi todo um ano de privações, de frustração imensa para o Vitoriano, que de um momento para o outro se via a ombrear com valorosas "squadras" como o Trofense, o Vizela e o Olivais e Moscavide.
Essa época passou, com dificuldades, mas passou. A meio da mesma tudo parecia irremediavelmente perdido. O VSC era 12º da liga, por alturas do Natal. Todos questionavam a contratação de um "suposto marroquino" para técnico do clube. . .uns diziam que não servia, outros questionavam a sua dedicãção pelo Vitória depois de ter passado oito anos a treinar o Braga, a besta negra! O que é facto é que, ao cabo de algumas jornadas, o homem conseguiu, por obra de algum milagre que desconheço, pôr o comboio nos eixos, tendo levado a equipa às costas até ao segundo lugar da liga, tendo assim acesso ao principal escalão da futebolada.
A partir daí, uma estranha euforia começou a percorrer as ruas desta cidade. O Vitória já era outra vez o maior e pouca gente se lembrava que ainda na época passada estávamos na segunda divisão. No espaço de três meses, o Vitória passou de clube condenado a clube a um passo do título. Quase toda a gente exige ao Vitória que se qualifique para as competições europeias, quase todos esperam que o Vitória seja o primeiro clube a vencer a Carlsberg Cup e muita gente ainda acredita que "é desta que o Vitória vai ser campeão!!!!"
No meu entender, um bocadinho de calma e paciência não faz mal a ninguém. Não podemos esquecer que subimos a custo, que temos uma equipa com relativamente pouca experiência na Bwin Liga, que os bons jogadores que agora dizem que temos, eram o ano passado o refugo da terceira e quarta divisões francesas. Independentemente disso, toda a gente parece acreditar que temos uma equipa do caraças. Eu prefiro acreditar que temos equipa para lutar por um lugar tranquilo na primeira metade da tabela, mas o resto do pessoal, pelos vistos é mais optimista do que eu. . .Eu, no meio desta gente toda que só vê o Vitória a "desbastar" por aí fora, devo parecer um autistazito qualquer, um acéfalo que não acredita que o Vitória vai à Uefa. Não é que eu não queira acreditar. O que eu não quero é bater com o cú duas vezes no mesmo chão. Não quero ser levado por emoções extremas, nem por entusiasmos desmedidos. Não quero caír violentamente como antes caí. A vida, ao longo destas 27 primaveras, demonstrou-me que não se pode acreditar demasiado nas coisas, pois aquilo que parece seguro e certo, de um momento para o outro desaparece, deixando dentro de nós um vazio estúpido que não sabemos como o iremos preencher. E isto que acabei de escrever não terá necessariamente a ver com o futebol. . . aplica-se em qualquer campo da nossa vida.
Calminha, muita calminha. . . o que interessa é ver a bola a rolar e poder desfrutar de uma época de bola (não é essencial, mas sabe bem!), num belo estádio, numa boa cadeirinha de plástico (que serve para atirar a àrbitros e fiscais de linha), com um amigo ou dois ao meu lado. O único senão é a cerveja sem alcoól.

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