segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Operação "Ouvidos com cera" ou história de uma rusga. . .

Mais um fim de semana que se passou cá no Burgo, e mais um fim de semana com cenas dignas de um filme série B, de terceiro escalão. Este fim de semana, tudo aparentava correr com normalidade em Guimarães, no que concerne ao divertimento nocturno. Perspectivava-se um fim de semana em cheio para os noctívagos vimaranenses, pois as alternativas de divertimento eram bastantes e de qualidade apreciável. Enquanto uns preparavam os bonés para uma sessão de Hip Hop no Palha D'Aço, a piscina do Penha Club recebia mais uma edição da festa regular do El Rock Bar, com concertos de bandas "Heavy" locais e muita bejeca para toda a gente. Fui inclusivamente assediado por um elemento do sexo feminino que me confessou já estar de bikini e que seria a primeira a saltar para a piscina. Bem, o bikini não o vi, não sei se era bonito ou não, mas a julgar pela silhueta, acredito que fosse uma obra de arte.
Bem, mas não é para falar deste tipo de arte que estou a escrever esta prosápia toda. Aqui a arte é outra, e é escrita em pautas, com claves e tabelaturas à mistura. Aqui o assunto é a música, o som, as "malhas", o "musicol" ou se preferirem, a poluição sonora que impera nos bares e põe toda a gente a abanar a gadelha ou o nadegueiro.
Bem, na noite de sábado passado ocorreu uma efeméride que ameaçou pôr em causa toda uma cultura musical que se vive no Centro Histórico da nossa excelsa cidade. Estava eu descansadinho a fazer o meu "set" de Synth-Pop e Electro no Taskilhado quando sou alertado por uma funcionária do dito bar de qua andariam uns quantos melros da SPA a controlar a autenticidade dos discos que se ouviam nos bares. "Merda!", pensei eu, "Lá vou ter que arrumar o portátil e a mesa, senão ainda me ficam com esta merda toda." O meu dj set acabou ali, pedi mais um fino ao barman e decidi ir dar uma volta pela praça, tal era a minha curiosidade em identificar tão raros espécimens de portugueses, denominados de fiscais! Lá desci a praça e assentei arraiais em frente ao afamado El Rock Bar, clássico e obrigatório para quem gosta de sacudir os piolhos ao som de Metallica, Rage Against the Machine, Rammstein e coisas do género. Com o meu fininho na mão, olhei para a porta e vi um rapazote de gafas, vestido de amarelo, segurando uma pastinha preta (a das multas!) na mão. Dentro do balcão, lá estava um velhadas qualquer, que já tinha idade para ter juízo, a abrir os discos um a um, a ver se encontrava piratarias. O saldo teria sido francamente positivo para esses senhores, visto que abandonaram o bar com um saco do lixo cheio de caixas quadradas contendo cd's piratas. No bar ao lado, dizia os boateiros que se tinham confiscado igual quantidade de cd's e até mesmo o computador portátil do rapaz. "Do que eu me safei!", pensei de imediato. . .
Ao fim da noite, lá iam eles, dois velhotes da SPA, amigos do Rui Veloso e do Paco Bandeira, acompanhados de cinco ou seis agentes da Judite, carregando sacadas e sacadas cheias de cd's às costas. Os filhinhos deles devem estar a esfregar as mãos de contentes. Depois de tudo isto, subitamente, naquela noite, o centro histórico de Guimarães perdeu o pouco fulgor nocturno que ainda conservava. Os bares ficaram despidos das suas discografias, e no El Rock voltava-se a ouvir Guano Apes, cinco ou seis anos depois da última vez. . . Os senhores da SPA e da Judite desapareceram do mapa tão rapida e misteriosamente quanto apareceram. . .Mais uma investida à "Lone Ranger".
No meio disto tudo, há alguns factores que me inquietam. Será assim tão prioritário confiscar música aos bares? Onde foram parar os discos confiscados? Quem os vai guardar? O que lhes vai suceder? Serão eles queimados? Irão eles engrossar as discografias desses fiscais e dos seus filhos? Sinceramente não sei. O que eu sei é que toda esta questão de direitos de autor e SPA é tudo uma enorma fantochada. Todos os anos, os ditos bares pagam à SPA uma franquia de 600€ para poderem ter música. Para onde vai esse carcanhol? Para os artistas e bandas? Acham mesmo que sim? Desiludam-se, então, caros amigos. O argumento de que por cada cópia ou download,quem sofre é o artista, é dos mais falaciosos que há.
Quem verdadeiramente ganha pasta a sério com este negócio, são os intermediários, as editoras, as distribuidoras e os promotores de espetáculos. Os músicos, como são gajos porreiros, ficam a ver navios. . .Digo-o por experiência própria!
Tempos houve em que tive essa experiência. Durante bastante tempo, fui parte integrante de um projecto "Thrash Metal" sediado na Invicta. A banda até gozava de um relativo sucesso, tinham dado dezenas de concertos, havia já um primeiro album no mercado e o segundo estava na calha. Contrato discográfico também existia e registo na SPA não faltava. Estava tudo em ordem e as coisas pareciam que poderiam correr bem, até ao dia em que os discos começaram a vender. Posso-vos afirmar que da venda de discos, nunca vimos um tostão. Dos direitos de transmissão radiofónica, idem aspas. . . e acreditem que muitas vezinhas ouvi músicas nossas no Hipertensão. O único rendimento que tínhamos era proveniente dos concertos ao vivo e da venda de merchandising que tinhamos que ser nós a fazer, porque a editora "ó puta deita-te!".
Como vendemos cerca de 5.000 cópias no Tugamenistão e 4.000 no país dos samurais e kamikazes (esses compram e comem de tudo, acreditem, até Fonzie!!!), começamos a tentar imaginar o que acontecia à receita gerada, visto que nada vinha parar aos bolsos aqui dos meninos. Facilmente chegamos à conclusão que o pastel fica todo retido nos entretantos. Editores, distribuidores, revendedores e até mesmo os que fingem proteger-nos (SPA), mamam tudo, mamam tudo e não deixam nada. Quem cria e tem imaginação, bem se fode! Agora, se me falarem em Ruis Velosos, Pacos Bandeiras, Tims e Vitorinos, esses sim, vivem bem. Vivem à pàla de um organismo que os sustenta e que só os protege a eles, que editam um disco de merda dos Cabeças no Ar todos os natais. Música a martelo, digo eu!
É por estas e por outras que cada vez menos me apetece compar um cd por 20€. 20€! Será que eles são loucos ou nós é que somos tão miseráveis ao ponto de acharmos os discos caros? Alguém no seu perfeito juízo pagaria 20€ por um cd? Será que algum ber teria ali os disquinhos todos originais, á espera de levar com cerveja e whiskey em cima? É isso que eles querem? Bem, eu também queria muita coisa. . . queria que os discos fossem mais baratos, para poder comprar mais, queria que as ditas raridades fossem mais fáceis de encontrar, pois assim não teria que andar á procura de discos do Frank Zappa e de Captain Beefheart na net. Queria poder dar a ganhar a quem realmente se esforça por fazer algo novo e não alimentar a barriga gorda desses cães que ganham dinheiro à pala da exploração da mão de obra barata, que são nada mais nada menos que a generalidade dos músicos que fazem alguma coisa de jeito.
Um conselho aos que agoram começam no mundo da música. . .eu sei que pode ser difícil, e é. . . mas pensem sempre vinte vezes antes de se comprometerm com uma ediora qualquer. Muitas vezes é preferível fazer edições de autor, só pelo simples facto de não haver ninguém a chular-vos.
Quanto à PJ que foi fazer "costinhas quentes" aos SPA's. . .não teriam vocês nada de mais importante para fazer? Quantos quilos de droga é que ficaram por apreender nessa noite? É que, pelo que eu me lembro, tavam todos preocupados com os cd's piratas que não fazem mal a ninguém, mas tavam-se todos a cagar para as dezenas de charros que foram fumados avidamente à vossa frente. . . Enfim, palhaçadas. . .
Aproveito, em jeito de despedida, para citar um grande vulto da filosofia e sociologia dos nossos tempos, Ricardo Couto, que acerca do nosso Portugal considera que "este país não é uma Républica das Bananas, mas sim uma Républica Parlamentar dos Ananazes, o que é um bocadinho mais complicado".
Xau-Xau com gambas e até à próxima!

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