segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Ide em paz, e que o Senhor vos acompanhe!

Neste belo fim-de-semana estival, todo um acontecimento social marcou o meu dia de sábado. Foi o baptizado da menina Ana Francisca, filha de um casal de amigos, que me fez acordar das 3 horitas de sono que usufruí na manhã de sábado. Acordado em sobressalto por Mr. Scaramanga, logo corri para um duche rápido mas regenerador. Passados nem quinze minutos, estava já no velho Largo da Oliveira, em frente à nossa perpéua sé sem bispo, a Igreja da Nossa Senhora da Oliveira. A expectativa entre os convidados era grande, pois realmente não pudemos deixar de constatar que o templo terá sido escolhido a dedo pelos babados pais da menina. A Igreja é realmente das mais bonitas que eu conheço e consegue cativar qualquer visitante pela sua imponência perante o resto do Largo. Visitem, que eu aconselho. . .mas aviso-vos já, não queiram nada com o padre lá da zona!
Todos os convidados estavam já dentro da Igreja (todos menos o Toni, que chegou para a fotografia), incluíndo as jovens senhoras, que se apresentavam todas elegantíssimas, diga-se de passagem. Logo ao início do serviço religioso, ouve-se o inacreditável. O Senhor Padre que dirigiu a cerimónia deve estar mesmo habituado a mandar na casa dos outros, ou então anda revoltado com o veredicto do referendo ao aborto, pois notava-se uma crispação evidente em relação aos elementos do sexo feminino presentes naquela bela nave de igreja:
- "Antes de começar, quero aproveitar para me dirigir a certas senhoras aqui presentes, dizendo-lhes que não acho certas roupas apropriadas para uma ocasião destas. Estamos na casa do senhor, um local de oração!" - foram estas as palavras do padre, quando se apercebeu que as meninas estavam vestidas de acordo com a estação do ano, com belos vestidinhos de alças que não faziam mal a ninguém, bem pelo contrário.
A indignação foi geral. . . a mim, apateceu-me regurgitar a vodka que avidamente tinha ingerido poucas horas antes, tal o meu espanto e repúdio por tal atitude conservadoreca por parte de um Padre que concerteza, pelos seus laivos de secularismo, deveria gostar de ler a missa em latim, para que ninguém pusesse em causa as pataquadas que se dizem. A partir desse momento, toda a missa foi para mim um espectáculo a registar, sempre na esperança que algum momento mais caricato surgisse. Tal não aconteceu. De registar o momento em que a menina viu a sua pequena cabecinha regada com água-benta, em que o Padre pergunta "Renuncias a Satanás?". Estaria ele à espera que uma bebé de 4 meses lhe respondesse? Bem, em tal momento, olhei para Mr. Scaramanga e ambos abanamos a cabeça, em sinal de resposta negativa á inquirição do senhor Padre.
A Santa Sé pode mesmo estar orgulhosa deste Ministro do Senhor, pois certamente, com atitudes destas, serão muitos os jovens que se sentirão atraídos pelos caminhos de Jesus Cristo. Não posso deixar de questionar este género de intervenções, justamente num local e num tempo onde cada vez mais faltam fieís à Igreja, talvez um pouco devido a uma certa ortodoxia que me parece imperar, a uma falta de tolerância pelas novas ideias que norteiam o comportamento da juventude, que por mais que pareça, nem sempre é imoral, apenas espontâneo e fruto da evolução dos tempos, da perda de certos complexos e preconceitos. Já agora, senhor Padre, o senhor deve mesmo acreditar na pureza e na castidade de todas as noivas vestidas de branco que o senhor casa. Ou será que pura e simplesmente aquilo que o senhor pretende é continuar a influenciar falaciosamente a mente dos nossos jovens? Também considera um beijo impuro? Também é daqueles que acha que para combater um vírus, o melhor caminho é o da abstinência e não o da prevenção? Acredita na abstinência sexual? Acredita nos votos de pobreza e de castidade? Acredita o senhor Padre que os Homens e Mulheres da Igreja deveriam continuar a ver a sua sexualidade reprimida contra-natura? Acredita mesmo que um ser humano reprimido e recalcado pode dar algum exemplo a alguém? Parabéns pela sua crença sem limites! O senhor deve mesmo ser um homem de fé. . .
Daí em diante, o baptizado correu de feição. Na almoçarada, os convivas deleitaram-se com as iguarias apresentadas. Regozijei-me com a presença de uma bela cabeça de leitão à minha frente, momento que registei para a posteridade com a minha câmara fotográfica. Após o almoço, seguiram-se momentos animados de convívio, enquanto eu e o meu companheiro de borgas Toni Xavier dormiamos, deitados na relva, à sombra de um chaparro. O Padre ainda tinha mais um baptizado, um casório e um funeral para presidir.
Felicidades para ti, Francisquinha. Que a vida te dê muitas alegrias e que a tua existência seja povoada por toda a felicidade que conseguires atraír para o teu lado. Ainda bem que ainda não consegues entender aquilo que aquele gajo que te molhou a cabeça disse. Não gostes dele, pois foi ele que te pôs a chorar. Quando te lembrares desse senhor, olha para essa memória e recorda-te que não precisas de ser hipócrita como ele.

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