quarta-feira, 30 de julho de 2008

Romarias...


Qual é o bom Português que não sabe o que é uma romaria?
Acho que todos nós já fomos confrontados com um desses magnânimos acontecimentos de cariz mais popular. Os carrosseís, as velhotas que vendem algodão doce e os seus velhotes , todos cheios de tinto até às pontas dos cabelos (e dos bigodes!).
Bem, engana-se quem pensa que essas festividades são exclusivas das aldeias ou dos meios mais rurais. Em cidades de maior dimensão, também existem romarias, e, deixem-me que vos diga, quanto maior é a cidade em questão, maior é o descalabro de romaria que lá tem lugar.
Pois é... em Guimarães também há uma romaria, e das grandes, por sinal. Estou-vos a falar das Festas Gualterianas, em honra de S. Gualter. Não sei porque carga de àgua foram escolher este gajo para as festas, visto que a padroeira da cidade é a Senhora da Oliveira, que é nada mais nada menos do que uma mutação da Virgin Mary. Devem ser efeitos do rio de Couros e da sua àgua vermelha...
Esta romaria de que vos falo é bastante singular, não porque tenha algo de especial, mas devido às proporções que a mesma toma, muito por força de se realizar em plena época alta do imigrante, início do mês de Agosto. Por essa altura, Guimarães fica cheia de matrículas amarelas, mal e porcamente estacionadas em frente a portas de garagem e a sinais de "proibido estacionar" com aquele "artigo 14 do código da estrada". Na rua só se ouvem francesices, "comme si, comme ça", "viens ici, Rémy" ou "se te apanho, fodo-te!", todas elas proferidas em frente à barraca das farturas da Família Oliveira (toda uma tradição dessa merda), da Roulotte dos Churros da Samy ou da barraca do Pão com Chouriço. As ruas enchem-se de barracas que vendem as mais inúteis bugigangas...panelas e tachos de qualidade duvidosa, motas em miniatura a gasolina (aquelas réplicas pequeninas das "bufonas" tipo CBR600) que matam mais do que motas a sério, até às barracas que vendem cintos e óculos de sol foleiros, administradas por um senegalês cuja abordagem é "Quieres barato?"...

Passo toda essa panóplia de barracas e dirijo-me para mi casa, chez moi. Invariavelmente tenho que passar pelo epicentro do cataclismo, o parque das hortas, onde me esperam mais barracas de farturas e de churros e mais pão com chouriço. Começo a ficar enjoado... Olho para o lado e vejo uma "cena" enorme, com uma cabine de camião à frente. De lado está escrito "Tômbola Internacional" e toda a gente se diverte a pagar forte e feio por um molho de senhas que, no máximo, dará direito a um elefante de peluche que parece retirado de um qualquer quarto de puto da antiga Alemanha de Leste, tão velho que é a merda do boneco. Mais abaixo, vejo os ringues de "Bumper Cars" ou carrinhos de choque, com aquele Techno horroroso, cheio de martelinhos e efeitos sonoros manhosos que parece que hipnotizam o povo para comprar mais umas fichinhas ao cigano desdentado, boné vermelho e T-Shirt de mangas caveadas.
Olho para baixo, mas sigo em frente. Sinto uma incapacidade tremenda em me embrenhar nesses meandros onde impera a fartura, o churro e o Trem de Cozinha Ideia Casa.
Sigo em frente, em direcção á minha humilde casa, que, para meu azar, fica mesmo em frente ao local onde se inicia o prato forte da festa, a grande e inenarrável marcha Gualteriana. Essa marcha é como uma parada carnavalesca, cheia de carros alegóricos que passam em revista as efemérides que ocorrem durante o ano na nossa pacata cidade. Até seria um número com piada...se não metessem para lá a merda das escolas de samba cheias de gajas com celulite e "pele casca de laranja", cheias de roupa e com carinhas de bradar aos céus. No Brasil, concerteza não teriam emprego nem numa barraca de vender farturas, digo eu!

Mas o que mais me irrita nessa merda de marcha é o pessoal que a ela assiste. Enchem os passeios de cadeiras de praia, já a guardar o lugar para a noite. Torna-se impossível circular na cidade nesse dia. Qualquer passo que dou tem que ser meticulosamente calculado, sob pena de ouvir um "Fonha-se" da boca de um qualquer velhote cheio de borras de tinto no bigode. Chego a casa, finalmente... em frente ao portão estão duas cadeiras de rede, uma velhota grita "olha o banquinho a cinco euros, cadeiras a dez". Quatro ou cinco pessoas aproximam-se e admiram meticulosamente o artigo. Será de boa qualidade? Entro pelo portão para o quintal de minha casa e, para meu espanto, vejo um velho de cabelo branco a olhar para mim. Quem é este gajo? O que está a fazer na minha propriedade? Simples... o que faz um velho encostado a uma árvore, no meio dos arbustos, com as calças em baixo, enquanto segura o "instrumento"? A jogar às cartas? Dou dois berros, corro em direção a ele... afinal entrou-me pela casa para me mijar no quintal. Mas que merda é esta? O velho dá a correr, nem pede desculpa nem nada, apenas foge. Desato aos berros, perguntando-lhe o que é que me faria se fosse eu a galgar o muro da sua casa, para mudar as àguas aos meus "tremoços"... o gajo continua a fugir, sem olhar para trás. Reparo que uma das velhotas que vende cadeiras é sua mulher, pois a mesma começa-se a aproximar perigosamente do meu portão... Desata a mandar bocas em resposta aos meus impropérios, e o desejo de soltar o meu cão é cada vez maior...
Chego ao portão, encho o peito, chamo-lhes porcos de merda e mando-os foder em frente a quem passava na rua.
Isto passou-se o ano passado. Este ano já antecipo a chegada desse fatídico dia... será na próxima segunda-feira. Já pedi ao meu amigo V.para me emprestar a espingarda de pressão que ele possui, mas este Natal, vou pedir ao Pai Natal uma caçadeira de dois canos, para que no próximo ano me barrique em casa à espera dos mijões...

1 comentário:

Blondie disse...

Ai coitado!
Eu não gosto de ter pena de ninguém, mas lamento pelas pessoas que têm casas perto destes acontecimentos anuais, vulgo Romarias :)
Cá na terra, temos o Sr de Matosinhos e não imagino como é que as pessoas, que moram no local da romaria, conseguem viver nesses dias e dormir descansadas à noite.
Quando me dirijo ao Sr de Matosinhos, normalmente para jantar nas tasquinhas, existe sempre um pensamento que me ocorre enquanto observo as pessoas que passam (as quais tão bem descreveste) "Debaixo de que pedra esta gente saiu?".

Adorei a descrição que culmina com tamanho acontecimento mesmo dentro de tua casa. Que situação!! Eu nem sei o que faria, acho que chamava a polícia! E soltava o cão, se o tivesse :) Como só tenho dois gatinhos, não sei se surtia o efeito pretendido.
Há gente com um descaramento!!